O eclipse aconteceu durante a manhã do dia de ontem. Segundo as notícias o maior de há 100 anos para cá.
Imensa gente demonstrou um interesse especial por este acontecimento da natureza, que ainda hoje, quando se manifesta, perturba muito boa gente, levando em alguns casos mais influenciáveis, a actos tresloucados e proclamações de fim-do-mundo.
O envolvimento e a participação em grupo para visualizar o evento, causou-me algum espanto. No meu local de trabalho foram muitos os que me perguntavam: “Então, não viste o eclipse?. Anda cá ver! Junta-te a nós que temos os óculos especiais!”
O espanto advém da amorfidade, em relação a tudo e a todos, que últimamente vem trespassando oa nossa sociedade. Senão veja-se: prestam-nos serviços abaixo de cão na maioria dos restaurantes e bares (excepto se fores estrangeiro) e ninguém reclama; nos serviços públicos esperamos em filas intermináveis para depois sermos tratados como simples números e sempre abixo de cão, mas ninguém barafusta; compramos bilhetes para espectáculos que começam tarde ou são simplesmente cancelados sem aviso prévio e ninguèm se insurge; somos acometidos diáriamente da prepotência de pequenos e grandes poderes – autoridades, comunicação social, políticos, gestores, etc, e nada dizemos; até no afrontamento sistemático dos mais elementares princípios que devem reger a conduta humana, limitamo-nos na maioria das vezes àquela ladainha patética da fatalidade bem portuguesa: “Mas o que é que podemos fazer? “
Por isso, quando hoje de manhã vi grupos de pessoas por toda a parte, partilhando e discutindo um acontecimento, de cabeça inclinada, olhar atento no céu, óculos escuros quais turistas acidentais, como que esperando um milagre que acorde este país, pensei para comigo: Mais do que alienados, fomos eclipsados!
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